:: Corredor ::

Eu não sabia por que motivo eu ainda residia aquele local. Depois daquela noite, eu simplesmente acordara do nada ali. Estava tão cansada que dormi por horas a fio, sem saber certamente o que ocorrera. Era agora que eu começava a clarear os pensamentos. Aquilo tudo era muito estranho - era certo de que precisava entender o que houvera - , mas eu também não via algum motivo para eu precisar sair. Talvez eu precisasse apenas me identificar com o local e - muito improvável - com as pessoas. Afinal, aqui não era pior do que qualquer situação que eu já tivera passado, ao menos, porém, antes do acidente. Esquece isso logo de uma vez. Ordenou uma voz separada em minha cabeça. Você sempre dá um jeito de voltar os pensamentos para aquele dia. Pense em outra coisa. Decidi, portanto, sair do meu quarto e andar pelo lugar. Sim, eu havia de admitir que era bonito. Andei lentamente, sem alguma pressa, apenas apreciando cada detalhe do corredor. Estava tão concentrada que foi por esse motivo que quase esbarrei em uma garota no corredor. A aflição me surgir por completo porque quase tocara no braço descoberto da garota. Suspirei de alívio. Já os dois presentes no corredor, me olhavam intrigados. Nem me dei o trabalho de inventar uma desculpa.
- Olá para os dois. - Cumprimentei sem alguma emoção, na verdade. Não me importava. Não podia estabelecer grandes relações, seja de amizade ou qualquer tipo de amor. Isso era o pior.

Mostrei as mãos em sinal de rendição para a garota que estralava o corpo todo.
- Eu não ia fazer piadinhas. - Ok, era mentira. Mas, bem, é preciso ter cuidado com garotas como ela, se não eu perdia as chances.
Então a outra chegou, com aquele quase tombo e o que interpretei como repulsa à estressadinha. Arqueei a sobrancelha para ela. E então me dirigi às duas, ainda um pouco intrigado com a garota que chegara a pouco.
- Sou James. E vocês?

Eu vi a reação dos dois quase rodeando ao meu redor. A da garota - Kayleigh, como acabar de se apresentar, mesmo de com uma aparente má vontade - não era tão visível. Na realidade, mal parecia se importar com algo. Já o garoto me encarava atentamente, como se eu fosse uma espécie de objeto curioso que ele buscava ver se aprovava ou não.
- Algum problema? - Perguntei, levemente irritada com seu modo de olhar.
Voltei a me encostar na parede, desta vez olhando para cima e mantendo uma certa distância dos dois. Eu logo sairia dali sem que os dois ao menos percebessem, mas voltei minha atenção ao ver que o garoto James perguntara meu nome.
- Pennyweather. - Respondi, igualmente como a outra garota, sem alguma emoção. Só que, diferente dela, não revelei meu sobrenome. Até por que não havia algum motivo para saberem e, além de tudo, eu simplesmente o guardava como se fosse algo só meu desde o acidente.
Sentei no chão ainda encostada na parede. Fechei os olhos e tentei respirar um pouco fundo. Por que ainda continuava ali? Eu tinha um propósito de explorar um lugar, não era?

Percebi a garota em minha mente, e quase bati na minha própria cabeça. Se eu tinha alguma chance, elas acabaram aqui. Kayleigh provavelmente me acharia um mentiroso. Mas a vida é assim, fazer o quê.
A outra, Pennywalter, se sentou no chão.
- Posso de chamar de Penny? Pennywalter é um nome muito comprido. - Dei de ombros, agora tentando disfarçar meu olhar.

Continuei sentada por um tempo quando ouvi o garoto se dirigindo a mim. Só que, desta vez, uma raiva desceu sobre mim, forte.
- É Pennyweather, idiota, Pennyweather!! - Corrigi-o com ódio, os dentes trincados.
Fiquei um tempo em silêncio, encarando o vazio. Não havia nada melhor para fazer, portanto me levantei, limpando a poeira das roupas.
- Não me chame de Penny. Chame de Penn. - Acrescentei, fria, antes de sair. Peguei minhas coisas - o que resumia o celular jogado no chão - e voltei a explorar o lugar.

Olhei para Penn indo embora. É, parece que as coisas eram mais difíceis por aqui. Bem, paciência. Me virei para a outra, Kayleigh, encostada na parede. Fui até ela e tentei puxar assunto.
- Então, como veio parar aqui?

É, isso não tinha acontecido apenas comigo. Eu precisava sair dali, precisava pensar no que isso significava.
- Kayleigh, preciso ir. Até mais. - Saí dali, rumo a qualquer lugar.